segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

NOSSA FEIRA DO LIVRO 2013

   Após um ano inteiro de muito trabalho, eis a culminância dos nossos projetos.

   Os alunos do I Segmento apresentaram lindamente a música "Borboletas" e "Garota de Ipanema". Também tivemos a apresentação de uma aluna tocando "Aquarela" na Flauta.







Os alunos da professora Tatiana construíram lindas maquetes reproduzindo obras do nosso homenageado: OSCAR NIEMEYER.





               No II Segmento também tivemos belas apresentações. Os alunos do 7º ano recitaram poemas de Vinicius de Moraes e poemas autorais.






Além disso, os alunos prepararam uma linda exposição:









Os alunos do 8º ano também capricharam e montaram um lindo ESPAÇO RUBEM BRAGA:



O 9º ano encantou com a apresentação de Asa Branca, de Luiz Gonzaga:







Nossa equipe aproveitou todas as apresentações







E assim termina nossa Feira do Livro. Ano que vem tem mais!

 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

ITABORAÍ: MINHAS MEMÓRIAS

“A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la.”


Gabriel García Márques





         O que são memórias? Como o nosso cérebro faz a seleção dessas memórias? O que de tudo que vivemos vai ficar guardado em nossa mente e coração para sempre? 
        Fiz essas perguntas para os alunos do 7º ano. Para ajudar nas respostas dividi o quadro em três partes: os 5 sentidos (audição, olfato, paladar, tato e visão), as fases da vida (no caso deles infância e adolescência) e as memórias na formação da cultura e da identidade.Oralmente os alunos contaram o que lembram dessas fases da vida e fomos preenchendo o quadro memórias:
o cheirinho de um bolo feito pela mãe, o chocolate quente ao acordar pela manhã, o perfume da avó que faleceu e deixou uma imensa saudade, a lembrança da primeira vez que foram à praia, a sensação que sentiram ao pisar na areia, ao tomar um banho de cachoeira, o cafuné do pai, o abraço apertado da mãe que passou o dia longe porque precisava deixá-los para trabalhar... Pessoas que se foram, uma cantiga de ninar, uma professora inesquecível, o primeiro livro... O primeiro beijo, a primeira paixão, a tristeza de um amor não correspondido... 
          Muitas recordações vieram à tona. Rimos e nos emocionamos com essas histórias, fatos que um a um contam uma vida, uma vida que está apenas começando para eles, mas já com tantas memórias boas e também dolorosas. 
          Conversamos então sobre como o lugar no qual vivemos influencia na formação de uma memória cultural: costumes, hábitos, gostos musicais, religião, formação escolar e tantos outros fatores vão influenciar na forma que vemos e sentimos o mundo.
          
           Para  compreendermos melhor tudo isso fizemos a leitura do poema "Ilha do Governador", de Vinícius de Moraes:

Rio de Janeiro

Esse ruído dentro do mar invisível são barcos passando
Esse ei-ou que ficou nos meus ouvidos são os pescadores esquecidos
Eles vêm remando sob o peso de grandes mágoas
Vêm de longe e murmurando desaparecem no escuro quieto.
De onde chega essa voz que canta a juventude calma?
De onde sai esse som de piano antigo sonhando a "Berceuse"?
Por que vieram as grandes carroças entornando cal no barro molhado?

Os olhos de Susana eram doces mas Eli tinha seios bonitos
Eu sofria junto de Suzana - ela era a contemplação das tardes longas
Eli era o beijo ardente sobre a areia úmida.
Eu me admirava horas e horas no espelho.

Um dia mandei: "Susana, esquece-me, não sou digno de ti - sempre teu…"
Depois, eu e Eli fomos andando… - ela tremia no meu braço
Eu tremia no braço dela, os seios dela tremiam
A noite tremia nos ei-ou dos pescadores…
Meus amigos se chamavam Mário e Quincas, eram humildes, não sabiam
Com eles aprendi a rachar lenha e ir buscar conchas sonoras no mar fundo
Comigo eles aprenderam a conquistar as jovens praianas tímidas e risonhas.
Eu mostrava meus sonetos aos meus amigos - eles mostravam os grandes olhos abertos
E gratos me traziam mangas maduras roubadas nos caminhos.

Um dia eu li Alexandre Dumas e esqueci os meus amigos.
Depois recebi um saco de mangas
Toda a afeição da ausência…

Como não lembrar essas noites cheias de mar batendo?
Como não lembrar Susana e Eli?
Como esquecer os amigos pobres?
Eles são essa memória que é sempre sofrimento
Vêm da noite inquieta que agora me cobre.
São o olhar de Clara e o beijo de Carmem
São os novos amigos, os que roubaram luz e me trouxeram.
Como esquecer isso que foi a primeira angústia
Se o murmúrio do mar está sempre nos meus ouvidos
Se o barco que eu não via é a vida passando
Se o ei-ou dos pescadores é o gemido de angústia de todas as noites?

                                                                Vinícius de Moraes
 *Berceuse = cantiga francesa de ninar
*Alexandre Dumas = Romancista francês que escreveu vários livros, dentre eles, “Os Três Mosqueteiros”.                                                                                           

             Ao lermos o texto relembramos a pesquisa biográfica feita pelas turmas e que Vinícius morava e estudava em Botafogo. Quando seus pais mudaram para a Ilha do Governador, ele ficou morando com seus avós. O poema acima fala de suas visitas nos finais de semana e nas férias escolares. Ao falar desses dias, o poeta  relembra a paisagem do mar e os pescadores, os primeiros desejos e amores da adolescência, os amigos pobres e a simplicidade de seus gestos... E fica nítido a diferença cultural entre os bairros de Botafogo e Ilha sentidas pelo poeta.
          
          Outro texto que estudamos foi "A Arte de Ser Feliz", de Cecília Meireles:

               Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia-me completamente feliz.


             Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém minha alma ficava completamente feliz.



             Houve um tempo em que a minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda.  À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não a podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que ouvisse, não entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham  tal expressão no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu que não participava do auditório imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.



                 Houve um tempo em que a minha janela se abria para uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros, e meu coração ficava completamente feliz.



            Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos: que sempre parecem personagens de Lope da Vega. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.


            Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outras dizem que essas coisas só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim. 


             O narrador recorda momentos de várias fases de sua vida. Fases que estão relacionadas à mudanças de espaços (ambientes) e crescimento (começa com memórias da infância, depois afirma-se que "não era mais criança" e termina com verbos no presente), demostrando essa passagem de tempo entre uma recordação e outra. Nesse texto, as memórias são de momentos simples, cotidianos, mas que marcaram e despertaram grande felicidade... Uma felicidade certa de olhos que aprenderam a enxergar e valorizar o que nem todos conseguem ver e sentir.

              Assim, depois dessas conversas e leituras,  convidei aos alunos a escreverem suas memórias usando um narrador-personagem, um tempo cronológico (da infância a adolescência) e situando-a em Itaboraí. Para aqueles que não são do município, pedi que escrevessem sobre a cidade anterior e como se sentiram com a mudança.

            Para ajudar a relembrar esses momentos inesquecíveis, sugeri que trouxessem fotos. Dessa forma, montamos uma linda exposição no mesmo dia do sarau "Novos Poetas". Reunimos fotos, textos sobre memórias e trechos dos textos escritos por eles. Mais tarde, todo material virará um livro que será divulgado aqui no blog. Por enquanto, leiam os trechos selecionados para a exposição:



“Quando eu era criança, eu era muito sapeca e adorava fazer arte. Aos 4 anos entrei para a Escola Clara Pereira de Oliveira e conheci minha melhor amiga chamada Camila”. (Laryssa Corrêa, 701)

“Eu me lembro de quando eu tinha 9 anos e entrei na escola Clara Pereira, pois essa é a melhor escola que eu conheci... Lembro-me da minha melhor professora e o melhor livro que eu li: “O Fim dos Tempos”.” (Brunielle Santos, 701)

“Quando eu era pequeno gostava muito de brincar de guerra, pedia a minha mãe e a minha avó para comprar brinquedinhos de soldados, tanques, jipes e aviões. Eu adorava imaginar toda aquela ação e aventura.” (Guilherme Laureano)

“Uma coisa que eu nunca vou esquecer de Itaboraí é de algumas vezes que meus amigos e eu fomos ao Alberto Torres e fizemos vários vídeos engraçados. Quando voltamos de lá, nós tocamos algumas campainhas e derrubamos tijolos de um murinho velho. Esses dias foram muito bons.”
(Maycon Gabriel, 701)

“(...) Sempre no Natal quando dava meia-noite eu pedia a Deus para me dar uma casa melhor onde eu pudesse ficar na rua e um quarto. Meu pai comprou um lote em Itaboraí e fomos morar lá. Conheci muitos amigos, pude brincar na rua, conheci minha melhor amiga e depois disso minha vida mudou muito”. (Palloma Fagundes, 701)

“Da infância lembro do sabor da comida da minha tia, o cheirinho dos perfumes das pessoas que eu amo e que nunca vou esquecer... É uma época de saudades.” (Larissa Reis, 701)

“Minha infância foi divertida, gostava de estar com a minha mãe, gostava daquele tempo... Sinto muita falta de estar com meus amigos de infância, se pudesse voltaria no tempo para estar com todos eles.” (Nathália Rodrigues, 701)


“Quando eu era criança, eu acordava e sentia aquele cheiro do café da manhã que minha avó fazia, eu ia correndo para comer aquele delicioso pão, depois dava um abraço muito forte em minha mãe e ela saía para trabalhar...” (Vinicio de Souza, 702)


“Quando eu tinha 10 anos ia pro sítio da minha avó, lá era muito legal! Tinha piscina, a gente tomava banho, depois minha avó trazia lanche e saíamos para praça...” (Thalya,702)


“Eu lembro o primeiro dia que estava aprendendo a andar de bicicleta, eu nunca vou esquecer isso porque caí dentro do mato, dentro de um buraco (...) Também lembro o dia que meu pai me levou ao campo para me ensinar a jogar bola. Eu fiquei muito feliz por ter aprendido com ele.” (Denner, 702)


“Da minha adolescência eu vou sentir saudades de quando fui à Praça de Itaboraí com meus colegas e eles me apresentaram umas garotas (...). Teve uma que eu quis logo conhecer, e quando senti o perfume dela logo me apaixonei”. (Rony Silva, 702)




      UMA FOTO NÃO É SÓ UM PEDAÇO DE PAPEL, ELA É O REGISTRO DE UM MOMENTO ESPECIAL. É UMA FORMA DE ETERNIZAR COISAS BOAS QUE VIVEMOS E NÃO QUEREMOS ESQUECER; PESSOAS ESPECIAIS QUE QUEREMOS GUARDAR SEMPRE NA MEMÓRIA.

     A FOTO NOS AJUDA A RELEMBRAR COM DETALHES UM LUGAR QUE CONHECEMOS, PESSOAS QUE AMAMOS, SENTIMENTOS QUE VIVENCIAMOS... AQUELE SEGUNDO, CAPTADO PELA LENTE DE UMA MÁQUINA, PODE ENTÃO SER TRANSFORMADO EM UMA MEMÓRIA QUE LEVAREMOS PARA SEMPRE...